Do Ninho da Águia
Por George Smith
Devo admitir que não foi por motivos espirituais que eu parei na Avenida Park para encontrar o irmão Branham pela primeira vez em Abril de 1963. A única coisa que eu sabia era que ele tinha uma filha chamada Rebeca. Eu queria pedir a ela para sair um dia, e a fim de fazer isso eu primeiro tive que pedir permissão para o pai dela.
A palavra “profeta” era um termo estritamente do Antigo Testamento para mim, e “cura divina” era um assunto tabu em nossa rígida família batista.
Meus pais foram missionários no México, e eu nasci naquele país, o mais velho de 10 filhos. Meu pai estava associado com os tradutores do Wycliffe Bible, e para assegurar minha fluência em ambos inglês e espanhol das minhas primeiras palavras, ele insistiu que cada palavra fosse falada precisamente. Eu falava espanhol na escola e no recreio, porém somente o inglês era falado em nossa casa.
A meio caminho da escola secundária, meus pais mudaram a família para Tucson, Arizona. Eu continuei a estudar espanhol na escola, e morar tão perto da fronteira com o México presenteou-me com várias oportunidades de manter a língua da qual eu considerava ser a minha língua nativa.
No início de 1963, durante meu penúltimo ano, o coral da escola começou a realizar ensaios para uma produção da ópera ‘Carmen’. Foi assim que vi Rebeca pela primeira vez. Ela era uma garota nova na escola, e um membro do ‘Coral de Garotas’. Eu notei que embora a maioria das garotas mudassem para calças ou shortes antes de se apresentaram nos ensaios à noite, ela sempre usava vestido. Nossa igreja não ensinava contra mulheres usarem calças ou shortes, porém eu pessoalmente nunca gostei da idéia. Um dia eu parei Rebeca no corredor da escola e disse a ela o quanto eu admirava a maneira como ela se vestia, mas eu levei um tempo para conseguir nervos para pedir para sair com ela. Quando eu finalmente pedi, ela disse que primeiro eu teria que pedir para o seu pai.
Morávamos somente cerca de três quarteirões um do outro, e eu havia dirigido perto de sua casa tantas vezes que eu sentia como se já conhecesse sua família inteira. Em duas ocasiões eu havia visto o seu pai na frente do jardim, lavando seu carro, e havia até mesmo buzinado a buzina e acenado para ele. Ele havia acenado de volta entusiasticamente, e eu pensei que talvez Rebeca já houvesse mencionado meu nome para ele. Ela não tinha, e ele não tinha idéia de quem era o rapaz amigável na camionete verde.
No dia em que eu finalmente o encontrei, o irmão Branham estava cortando a grama no jardim de trás, e ele tinha sua camisa de fora. Paramos e conversamos por alguns minutos, depois nos sentamos sobre o escorregador e ele começou a me contar acerca de uma de suas recentes viagens de caça. Caçada era um assunto do qual eu não sabia absolutamente nada a respeito, e eu pensava que esta era a pessoa mais interessante que eu já havia encontrado. Quando finalmente parti, cerca de uma hora mais tarde, eu tive sua permissão para levar Rebeca para jantar, porém ele nunca mencionou para mim que ele era um ministro.
Eu nunca havia conhecido qualquer coisa de religião fora da igreja batista, e quando eu comecei a ouvir algumas coisas de Rebeca referentes ao ministério de seu pai, isso tudo soava muito estranho para mim. Antes dela partir para passar o verão em Jeffersonville, ela me deu o livro ‘Um Homem Enviado de Deus’.
Perto da época da família retornar para Tucson para o tempo escolar, eu tinha uma longa lista de perguntas. Mui pacientemente, o irmão Branham sentou-se comigo e respondeu a cada uma. Eu havia compreendido desde o início que este não era um homem comum, mas depois disso, eu sabia que ele era um profeta de Deus.
Não havia nenhuma igreja da Mensagem naquele tempo em Tucson, e eu perguntei ao irmão Branham se eu deveria ou não continuar a assistir na igreja batista com minha família. Ele me falou que eu deveria, e disse que ele realmente apreciaria se eu levasse Rebeca com ele. Ele mesmo foi conosco algumas vezes.
Sendo o filho mais velho, era minha responsabilidade levar meus quatro irmãos mais jovens (idades de 3-13 anos) para a igreja nas manhãs de Domingo. Eu não gostava muito da idéia, e eu fazia os meninos sentarem no banco de trás da pick-up, enquanto Rebeca e eu sentávamos na frente. Uma manhã estávamos esperando na frente do apartamento de Rebeca, e os quatros garotos com seus cabelos recentemente escovados, estavam sentados com suas costas contra a cabine, segurando suas Bíblias. O irmão Branham, que estava na frente do jardim, andou próximo e começou a conversar com eles sobre a escola dominical. Ele lhes fez algumas perguntas da Bíblia e os louvou muito por saberem as respostas corretas.
Quando Rebeca veio e nos preparamos para sair, o irmão Branham veio até a mim, com um sorriso, e disse: “George, que quatro pequenos pregadores de aparência fina que você tem sentados aí atrás!”.
Hoje, cada um daqueles garotos é um ministro ordenado na igreja batista. Três estão servindo em campos de missões na América Latina, e o mais jovem está pastoreando em Phoenix, Arizona.
Em Maio de 1965, fui até o irmão Branham para pedir a mão de Rebeca. Até hoje, creio firmemente que de nós dois, ele era de longe o mais nervoso. Ele conversou sem parar por duas horas, porém eu, por outro lado, estava nervoso demais para lembrar o que ele disse. Finalmente, eu bruscamente falei: “Estou realmente apreciando isto, mas eu preciso saber se eu posso me casar com sua filha!”.
“Certamente George”, ele me disse, “vocês podem se tornar noivos agora, porém nem sequer pense de ficar casado até após você ter recebido o Espírito Santo”.
Dois meses depois disso, fui a Jeffersonville com a família para atender os cultos no Tabernáculo. Uma manhã o irmão Branham me pediu para sair para um passeio com ele. Ele disse que estava nervoso e apenas queria sair um pouco. Rodamos por todos os campos rurais, e ele me mostrou alguns dos lugares onde ele havia vivido enquanto ele conversava sobre como ele havia sido criado. Dirigimos ao Green’s Mill, e ele me contou acerca de uma caverna aonde ele ia para orar. Ele conversou comigo sobre os meus fundamentos, e o que eu planejava fazer com minha vida. Eu não trocaria por nada aqueles poucos momentos, muito privados, horas que tivemos juntos. Quando chegamos de volta para casa, eu lhe perguntei se ele me batizaria.
No dia 2 de Agosto, o irmão Branham e eu fomos ao Tabernáculo. Sem meu conhecimento, ele havia convidado quatro casais para se unir a nós como testemunhas. Eu havia estado esperando um tempo para quando o irmão Branham pudesse me batizar, e quando isso aconteceu, aquele foi o último culto batismal que ele havia realizado.
No final de Setembro de 1965, o irmão Pearry Green estava em Tucson e me convidou até sua casa em Beaumont, Texas. Sem ser do meu conhecimento naquele tempo, o irmão Branham havia falado para o irmão Green que eu estava em busca do Espírito Santo, e que ele pensava que seria bom se o irmão Green me levasse até sua casa e orasse comigo por alguns dias.
Eu fiquei em Beaumont aproximadamente por uma semana, e uma noite após a janta, eu fui para o meu quarto ler e orar. O irmão Green e o irmão Richard Balir, que estava visitando de Louisiana, estavam no escritório da igreja (adjacente a casa) aguardando por um telefonema do irmão Branham. Eles haviam estabelecido a chamada para o começo do dia, e foi dito que o irmão Branham estava fora naquele momento, porém que ele retornaria sua chamada mais tarde à noite.
Enquanto eu orava, comecei a sentir um desejo tão grande e um desespero em meu coração, e fui até o escritório e pedi ao irmão Green e ao irmão Blair se eles se agradariam de orar comigo. Ajoelhamos-nos juntos por alguns momentos, e quando eu orei senti a presença do Senhor de uma maneira que eu nunca havia sentido antes.
Logo após isso, o irmão Branham ligou, e o irmão Blair e o irmão Green foram até o escritório para falar com ele. Eu permaneci na igreja, mas logo em seguida o irmão Green me chamou dizendo que o irmão Branham queria falar comigo pelo telefone.
Quando peguei o telefone, ele disse para mim: “George, quero ser o primeiríssimo a te congratular. Você há pouco tem recebido o Espírito Santo”.
Isso foi somente a um curto tempo atrás que eu descobri que nem o irmão Green e nem o irmão Blair haviam mencionado ao irmão Branham qualquer dos eventos que haviam precedidos seu chamado ao telefone, ou mesmo que eu estava na igreja quando ele ligou.
Bem no dia seguinte, minha mãe me ligou de Tucson para dizer que uma carta havia chegado do correio do Exército dos Estados Unidos. Eu havia sido convocado, e no dia 4 de Outubro, eu estava a caminho da base de treinamento de campo em Fort Polk, Louisiana.
Em Novembro de 1965, eu havia conhecido o irmão Branham por três anos e meio, e eu ainda não sabia exatamente como agir em torno dele. Ele sempre me fez sentir descansado, me chamando de “cuco” conforme um pássaro perna-longa do estado do Arizona, e ele ria dizendo que eu havia gasto a estrada entre minha casa e a deles.
Eu tentava apresentar, empregando exteriormente, a mesma maneira fácil que Rebeca e os outros filhos tinham em volta de seu pai, e eu frequentemente me questionava se qualquer coisa que eu fazia ou falava era para tirar vantagem da amizade do irmão Branham. Eu estava com medo de fazer ou dizer qualquer coisa que pudesse colocar desnecessariamente alguma pressão sobre ele, mas era muito tentador sempre estar fazendo perguntas! “Apenas relaxe”, Rebeca me dizia. “Se você fizer alguma coisa errada, ele deixará você saber”.
Lembro-me de uma ocasião, em 1963, quando eu parei perto de seu apartamento em direção à minha casa com uma máquina de cortar grama. Eu estava usando uma calça jeans azul cortada. Rebeca e eu estávamos planejando sair mais tarde à noite, e depois de conversar com ela por alguns minutos eu saí pela porta dizendo a ela: “Pegarei você em uma hora”.
O irmão Branham estava sentado no outro lado da sala, lendo, e enquanto me aproximava da porta eu o ouvi dizer, como se falando para si mesmo: “Deus! Dê tempo a ele para ir para casa e encontrar algumas calças mais compridas”.
Então ele olhou para mim por cima do topo dos seus óculos e sorriu. Você pode apostar que eu nunca mais usei calças curtas outra vez.
Meu treinamento básico no Fort Polk estava perto de terminar quando o irmão Branham chegou a Shreveport para as reuniões de ações de graças. Eu consegui um passe de modo que eu pudesse atender os cultos, e também eu desejava desesperadamente conversar com ele a respeito do meu futuro. O conflito no Vietnã estava em alta marcha, e eu sabia de minhas chances de ser enviado às linhas de frente que eram extremamente altas.
Uma tarde sentamos juntos em seu quarto de hotel, e eu derramei sobre ele todas as minhas questões e temores. Ele fez mais do que me ouvir. Eu sabia que ele sentia o que eu estava sentindo, porém tudo que ele disse foi: “Os passos do justo são ordenados pelo Senhor. Não tenha medo de ir”.
Depois daquilo, eu não me importava se eles me enviassem para a lua!
Eu consegui uma autorização para o Natal e fui para casa em Tucson. O irmão Branham, irmã Branham, Sara, José, e a família de Billy Paul estavam todos se preparando para ir a Jeffersonville para as festas de natal. Eu estava tão grato por Rebeca haver ficado em Tucson. Enquanto eles estavam longe, ela estava indo supervisionar a mudança dos pertences da família do apartamento na Avenida Park para a nova casa nas montanhas Catalina, ao norte da cidade. Na noite antes deles partirem, eu parei para dizer adeus ao restante da família.
O irmão Branham estava em seu quarto de dormir e eu entrei e conversei por um minuto. Eu notei um velho par de botas de caça e uma camisa flanela, colocada numa cadeira, e de brincadeira eu perguntei se ele estava levando suas roupas de caçada juntas só no caso dele decidir ficar um pouco. Mas ele me respondeu bem seriamente, dizendo: “Não, eu pensei que eu poderia viajar com elas amanhã. Você nunca sabe quando você pode ter algum problema com o carro”.
Isso não soava correto para mim, sabendo o que eu sabia que o irmão Branham tinha o mais fino carro ajustado do que qualquer um em volta. De qualquer forma, nenhuma outra coisa foi dito a respeito disso naquele tempo, e eu disse adeus e parti. Mais tarde eu descobri que ele não havia usado a camisa flanela e as botas de caça apesar de tudo.
Não há meio possível de descrever como nossas vidas mudaram em relação à partida do irmão Branham. Como várias outras pessoas, nossas esperanças e sonhos para o futuro haviam estado concentrados em volta dele e de seu ministério. Agora, não tivemos o irmão Branham por mais tempo para nos apoiar, e tivemos que confiar em fazer nossas orações e buscando ao Senhor. A graça de Deus provou ser suficiente, e Ele estava mui presente para ajudar, exatamente como as Escrituras prometeram que Ele estaria.
Rebeca e eu nos casamos no dia 30 de Março de 1966, numa cerimônia muito privada na casa das montanhas, para a qual a família não havia se mudado ainda. Duas semanas depois, fui enviado para o Vietnã, enquanto Rebeca ficou em Tucson para tomar conta da irmã Branham e Sara (ambas ainda estavam sofrendo fisicamente do acidente de automóvel), e de José com 10 anos de idade.
Em 1966, o irmão Roy Borders fundou as Publicações A Palavra Falada e começou o trabalho de impressões das Mensagens do irmão Branham em inglês. Por volta daquele tempo retornei do Vietnã e fui liberado do Exército em Outubro de 1967, e já era evidente que as traduções dos livretos da Palavra Falada eram necessárias para crentes de outras línguas que não falavam o inglês.
Mesmo antes de eu ter saído da escola secundária, eu havia traduzido o tratado do irmão Branham “Ele Ascendeu e Deu Dons Aos Homens”, assim quando o irmão Borders veio até a mim com a sugestão de que eu me dedicasse em tempo integral ao trabalho de tradução, eu senti que este era o trabalho que o Senhor havia preparado para mim desde o princípio.
Sempre tenho me arrependido de não haver tido uma oportunidade para traduzir da plataforma para o irmão Branham quando ele esteve aqui. Sou capaz de me lembrar somente de uma ocasião onde ele me chamou para usar o meu conhecimento do espanhol. A sala de recanto que ele estava construindo aqui em Tucson estava perto de terminar. O irmão Branham havia designado a porta de atalho pela entrada, e para o centro do painel ele havia escolhido uma ampla águia. Debaixo dela, ele planejou colocar as palavras ‘Ninho de Águia’.
Eu fiquei surpreso um dia quando o irmão Branham me perguntou como dizer ‘Ninho de Águia’ em espanhol. “Nido de Áquila”, eu lhe disse.
“Eu gosto disso”, ele disse. “Estas são as palavras que eu quero no painel da porta. Por favor, escreva isso aqui embaixo para mim”.
O irmão Branham uma vez disse: “As pessoas mexicanas são humildes, elas sabem como se aproximar de Deus. Se eu pudesse alguma vez descer até lá com este pequeno dom que Deus tem me dado, eles acreditariam”.
Através das fitas e dos livros traduzidos ele tem estado lá por vários anos agora, e as pessoas estão crendo, não somente no México, mas ao redor do mundo.
Eu realmente não sei por que o irmão Branham desejava que as palavras na porta para o seu recanto fossem em espanhol ao invés de inglês, mas para mim isso tem vindo a representar estes milhões de livros traduzidos e fitas que estão sendo enviadas para o mundo inteiro. Para mim, isso é onde tudo começou – do Ninho da Águia.
Sempre tem havido uma necessidade para que a Palavra de Deus seja traduzida. Jesus falou em aramaico, porém Suas palavras foram dadas a nós em grego. Perto do ano 400 d.C. Jerônimo havia traduzido as Escrituras para o latim, a linguagem mais comum do mundo ocidental daquele tempo.
Durante a Renascença, homens corajosos como John Wycliffe e Martinho Lutero traduziram a Bíblia para as línguas de origem da Europa, inglês e alemão. Houve tormentas de críticas, mas quando ele foi solicitado para se arrepender de sua tradução, Lutero exclamou: “Este livro único estará em cada língua, em cada país, perante os olhos e nos corações de todos os homens!”.
Em nossa própria era negra e violenta, somente esta Mensagem trás esperança e Vida, enquanto ela revela a Palavra escrita. Meu objetivo como um tradutor, é continuar e abastecer os crentes de fala espanhola com traduções que ecoam corretamente a Voz de Deus para nossa geração.
(Fonte: Revista “Only Believe”, Pgs. 17-20).