COMO HÁ DE SER
Como há de ser, conclusa a longa lida,
Finda a peleja da paixão mortal,
Quando, avistando além da escura vida
A porta do prazer celestial,
Dos pés varrida a última poeira,
Do rosto enxuto seu final suor,
Deixarmos esta cena passageira,
Entrando ao santo lar de eterno amor?
Como há de ser, nos céus por Deus banhados
Dos raios da divina e excelsa luz,
Oh, que alegria! Isentos de pecados,
Estarmos nós diante de Jesus!
E pela vez primeira em harmonia
Com os santos cidadãos dos altos céus,
Unindo-nos, sem medo, à companhia
Que cerca o trono do supremo Deus?
Como há de ser, com sentimento ouvindo
O coro dos remidos do Senhor,
As áureas harpas, sempre retinindo
Louvores ao Cordeiro, ao Salvador;
E quando, dentro de átrios espaçosos,
Entoarmos gratos salmos, sem cessar,
E, como incenso, os hinos fervorosos
Subirem junto ao celeste altar?
Como há de ser, quando o Juiz chamar-nos:
‘Benditos, vinde, para os céus entrai!’
E o Salvador dignar-se revelar-nos
A glória em que ele habita com o Pai?
Ali, não tem, jamais, a morte entrada,
Nem dor nem pranto estorvam o prazer.
A vista não se ofusca, e em volta nada
Pode a ditosa festa entristecer?
Como há de ser, quando a pasmosa história
Da triste e indigna vida que findou,
Com lucidez se espelhe na memória
Todo pecado ou mal que então passou,
O nosso apreço de Jesus aumente,
E da clemência deste Benfeitor;
E de contínuo a gratidão se alente
Por seu insigne e milagroso amor?
Como há de ser? Oh, nunca foi pensado,
Por mente ou coração humano aqui,
O bem-estar por Deus determinado
Para os que entrarem com triunfo ali!
Avante, irmãos! Avante no caminho
Que nos conduz ao gozo tão real!
Se aqui nós temos um quinhão mesquinho.
Marchamos para a glória divinal.
Letra: Sarah Poulton Kalley (1825-1907)
Música: Eduard Niemeyer