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Marcos
1. Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.
2. Como está escrito no profeta Isaías: Eis que eu envio o meu anjo ante a tua face, o qual preparará o teu caminho diante de ti.
3. Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.
4. Apareceu João batizando no deserto e pregando o batismo de arrependimento, para remissão de pecados.
5. E toda a província da Judéia e todos os habitantes de Jerusalém iam ter com ele; e todos eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
6. E João andava vestido de pêlos de camelo e com um cinto de couro em redor de seus lombos, e comia gafanhotos e mel silvestre,
7. e pregava, dizendo: Após mim vem aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das sandálias.
8. Eu, em verdade, tenho-vos batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo.
9. E aconteceu, naqueles dias, que Jesus, tendo ido de Nazaré, da Galiléia, foi batizado por João, no rio Jordão.
10. E, logo que saiu da água, viu os céus abertos e o Espírito, que, como pomba, descia sobre ele.
11. E ouviu-se uma voz dos céus, que dizia: Tu és o meu Filho amado, em quem me comprazo.
12. E logo o Espírito o impeliu para o deserto.
13. E ali esteve no deserto quarenta dias, tentado por Satanás. E vivia entre as feras, e os anjos o serviam.
14. E, depois que João foi entregue à prisão, veio Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho do Reino de Deus
15. e dizendo: O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho.
16. E, andando junto ao mar da Galiléia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores.
17. E Jesus lhes disse: Vinde após mim, e eu farei que sejais pescadores de homens.
18. E, deixando logo as suas redes, o seguiram.
19. E, passando dali um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes,
20. e logo os chamou. E eles, deixando o seu pai Zebedeu no barco com os empregados, foram após ele.
21. Entraram em Cafarnaum, e, logo no sábado, indo ele à sinagoga, ali ensinava.
22. E maravilharam-se da sua doutrina, porque os ensinava como tendo autoridade e não como os escribas.
23. E estava na sinagoga deles um homem com um espírito imundo, o qual exclamou, dizendo:
24. Ah! Que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus.
25. E repreendeu-o Jesus, dizendo: Cala-te e sai dele.
26. Então, o espírito imundo, agitando-o e clamando com grande voz, saiu dele.
27. E todos se admiraram, a ponto de perguntarem entre si, dizendo: Que é isto? Que nova doutrina é esta? Pois com autoridade ordena aos espíritos imundos, e eles lhe obedecem!
28. E logo correu a sua fama por toda a província da Galiléia.
29. E logo, saindo da sinagoga, foram à casa de Simão e de André, com Tiago e João.
30. E a sogra de Simão estava deitada, com febre; e logo lhe falaram dela.
31. Então, chegando-se a ela, tomou-a pela mão e levantou-a; e a febre a deixou, e servia-os.
32. E, tendo chegado a tarde, quando já estava se pondo o sol, trouxeram-lhe todos os que se achavam enfermos e os endemoninhados.
33. E toda a cidade se ajuntou à porta.
34. E curou muitos que se achavam enfermos de diversas enfermidades e expulsou muitos demônios, porém não deixava falar os demônios, porque o conheciam.
35. E, levantando-se de manhã muito cedo, estando ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava.
36. E seguiram-no Simão e os que com ele estavam.
37. E, achando-o, lhe disseram: Todos te buscam.
38. E ele lhes disse: Vamos às aldeias vizinhas, para que eu ali também pregue, porque para isso vim.
39. E pregava nas sinagogas deles, por toda a Galiléia, e expulsava os demônios.
40. E aproximou-se dele um leproso, que, rogando-lhe e pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres, bem podes limpar-me.
41. E Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o, e disse-lhe: Quero, sê limpo!
42. E, tendo ele dito isso, logo a lepra desapareceu, e ficou limpo.
43. E, advertindo-o severamente, logo o despediu.
44. E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho.
45. Mas, tendo ele saído, começou a apregoar muitas coisas e a divulgar o que acontecera; de sorte que Jesus já não podia entrar publicamente na cidade, mas conservava-se fora em lugares desertos; e de todas as partes iam ter com ele.
1. E, alguns dias depois, entrou outra vez em Cafarnaum, e soube-se que estava em casa.
2. E logo se ajuntaram tantos, que nem ainda nos lugares junto à porta eles cabiam; e anunciava-lhes a palavra.
3. E vieram ter com ele, conduzindo um paralítico, trazido por quatro.
4. E, não podendo aproximar-se dele, por causa da multidão, descobriram o telhado onde estava e, fazendo um buraco, baixaram o leito em que jazia o paralítico.
5. E Jesus, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: Filho, perdoados estão os teus pecados.
6. E estavam ali assentados alguns dos escribas, que arrazoavam em seu coração, dizendo:
7. Por que diz este assim blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?
8. E Jesus, conhecendo logo em seu espírito que assim arrazoavam entre si, lhes disse: Por que arrazoais sobre estas coisas em vosso coração?
9. Qual é mais fácil? Dizer ao paralítico: Estão perdoados os teus pecados, ou dizer-lhe: Levanta-te, e toma o teu leito, e anda?
10. Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar pecados ( disse ao paralítico ),
11. a ti te digo: Levanta-te, e toma o teu leito, e vai para tua casa.
12. E levantou-se e, tomando logo o leito, saiu em presença de todos, de sorte que todos se admiraram e glorificaram a Deus, dizendo: Nunca tal vimos.
13. E tornou a sair para o mar, e toda a multidão ia ter com ele, e ele os ensinava.
14. E, passando, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na alfândega e disse-lhe: Segue-me. E, levantando-se, o seguiu.
15. E aconteceu que, estando sentado à mesa em casa deste, também estavam sentados à mesa com Jesus e com seus discípulos muitos publicanos e pecadores, porque eram muitos e o tinham seguido.
16. E os escribas e fariseus, vendo-o comer com os publicanos e pecadores, disseram aos seus discípulos: Por que come e bebe ele com os publicanos e pecadores?
17. E Jesus, tendo ouvido isso, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas sim os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores.
18. Ora, os discípulos de João e os fariseus jejuavam; e foram e disseram-lhe: Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, e não jejuam os teus discípulos?
19. E Jesus disse-lhes: Podem, porventura, os filhos das bodas jejuar, enquanto está com eles o esposo? Enquanto têm consigo o esposo, não podem jejuar.
20. Mas dias virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão naqueles dias.
21. Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha; porque o mesmo remendo novo rompe o velho, e a rotura fica maior.
22. E ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho novo rompe os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; o vinho novo deve ser posto em odres novos.
23. E aconteceu que, passando ele num sábado pelas searas, os seus discípulos, caminhando, começaram a colher espigas.
24. E os fariseus lhe disseram: Vês? Por que fazem no sábado o que não é lícito?
25. Mas ele disse-lhes: Nunca lestes o que fez Davi, quando estava em necessidade e teve fome, ele e os que com ele estavam?
26. Como entrou na Casa de Deus, no tempo de Abiatar, sumo sacerdote, e comeu os pães da proposição, dos quais não era lícito comer senão aos sacerdotes, dando também aos que com ele estavam?
27. E disse-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem, por causa do sábado.
28. Assim, o Filho do Homem até do sábado é senhor.
1. E outra vez entrou na sinagoga, e estava ali um homem que tinha uma das mãos mirrada.
2. E estavam observando-o se curaria no sábado, para o acusarem.
3. E disse ao homem que tinha a mão mirrada: Levanta-te e vem para o meio.
4. E perguntou-lhes: É lícito no sábado fazer bem ou fazer mal? Salvar a vida ou matar? E eles calaram-se.
5. E, olhando para eles em redor com indignação, condoendo-se da dureza do seu coração, disse ao homem: Estende a mão. E ele a estendeu, e foi-lhe restituída a mão, sã como a outra.
6. E, tendo saído os fariseus, tomaram logo conselho com os herodianos contra ele, procurando ver como o matariam.
7. E retirou-se Jesus com os seus discípulos para o mar, e seguia-o uma grande multidão da Galiléia, e da Judéia,
8. e de Jerusalém, e da Iduméia, e dalém do Jordão, e de perto de Tiro, e de Sidom; uma grande multidão que, ouvindo quão grandes coisas fazia, vinha ter com ele.
9. E ele disse aos seus discípulos que lhe tivessem sempre pronto um barquinho junto dele, por causa da multidão, para que o não comprimisse,
10. porque tinha curado a muitos, de tal maneira que todos quantos tinham algum mal se arrojavam sobre ele, para lhe tocarem.
11. E os espíritos imundos, vendo-o, prostravam-se diante dele e clamavam, dizendo: Tu és o Filho de Deus.
12. E ele os ameaçava muito, para que não o manifestassem.
13. E subiu ao monte e chamou para si os que ele quis; e vieram a ele.
14. E nomeou doze para que estivessem com ele e os mandasse a pregar
15. e para que tivessem o poder de curar as enfermidades e expulsar os demônios:
16. Simão, a quem pôs o nome de Pedro;
17. Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, aos quais pôs o nome de Boanerges, que significa: Filhos do trovão;
18. André, e Filipe, e Bartolomeu, e Mateus, e Tomé, e Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu, e Simão, o Zelote,
19. e Judas Iscariotes, o que o traiu.
20. E foram para uma casa. E afluiu outra vez a multidão, de tal maneira que nem sequer podiam comer pão.
21. E, quando os seus parentes ouviram isso, saíram para o prender, porque diziam: Está fora de si.
22. E os escribas, que tinham descido de Jerusalém, diziam: Tem Belzebu e pelo príncipe dos demônios expulsa os demônios.
23. E, chamando-os a si, disse-lhes por parábolas: Como pode Satanás expulsar Satanás?
24. Se um reino se dividir contra si mesmo, tal reino não pode subsistir;
25. e se uma casa se dividir contra si mesma, tal casa não pode subsistir.
26. Se Satanás se levantar contra si mesmo, e for dividido, não pode subsistir; antes, tem fim.
27. Ninguém pode roubar os bens do valente, entrando-lhe em sua casa, se primeiro não manietar o valente; e, então, roubará a sua casa.
28. Na verdade vos digo que todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens, e toda sorte de blasfêmias, com que blasfemarem.
29. Qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca obterá perdão, mas será réu do eterno juízo.
30. ( Porque diziam: Tem espírito imundo. )
31. Chegaram, então, seus irmãos e sua mãe; e, estando de fora, mandaram-no chamar.
32. E a multidão estava assentada ao redor dele, e disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos te procuram e estão lá fora.
33. E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos?
34. E, olhando em redor para os que estavam assentados junto dele disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos.
35. Porquanto qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe.
1. E outra vez começou a ensinar junto ao mar, e ajuntou-se a ele grande multidão; de sorte que ele entrou e assentou-se num barco, sobre o mar; e toda a multidão estava em terra junto ao mar.
2. E ensinava-lhes muitas coisas por parábolas e lhes dizia na sua doutrina:
3. Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear.
4. E aconteceu que, semeando ele, uma parte da semente caiu junto ao caminho, e vieram as aves do céu e a comeram.
5. E outra caiu sobre pedregais, onde não havia muita terra, e nasceu logo, porque não tinha terra profunda.
6. Mas, saindo o sol, queimou-se e, porque não tinha raiz, secou-se.
7. E outra caiu entre espinhos, e, crescendo os espinhos, a sufocaram, e não deu fruto.
8. E outra caiu em boa terra e deu fruto, que vingou e cresceu; e um produziu trinta, outro, sessenta, e outro, cem.
9. E disse-lhes: Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça.
10. E, quando se achou só, os que estavam junto dele com os doze interrogaram-no acerca da parábola.
11. E ele disse-lhes: A vós vos é dado saber os mistérios do Reino de Deus, mas aos que estão de fora todas essas coisas se dizem por parábolas,
12. para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam, para que se não convertam, e lhes sejam perdoados os pecados.
13. E disse-lhes: Não percebeis esta parábola? Como, pois, entendereis todas as parábolas?
14. O que semeia semeia a palavra;
15. e os que estão junto ao caminho são aqueles em quem a palavra é semeada; mas, tendo eles a ouvido, vem logo Satanás e tira a palavra que foi semeada no coração deles.
16. E da mesma sorte os que recebem a semente sobre pedregais, que, ouvindo a palavra, logo com prazer a recebem;
17. mas não têm raiz em si mesmos; antes, são temporãos; depois, sobrevindo tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam.
18. E os outros são os que recebem a semente entre espinhos, os quais ouvem a palavra;
19. mas os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas, e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera.
20. E os que recebem a semente em boa terra são os que ouvem a palavra, e a recebem, e dão fruto, um, a trinta, outro, a sessenta, e outro, a cem, por um.
21. E disse-lhes: Vem, porventura, a candeia para ser posta debaixo do cesto ou debaixo da cama? Não vem, antes, para se colocar no velador?
22. Porque nada há encoberto que não haja de ser manifesto; e nada se faz para ficar oculto, mas para ser descoberto.
23. Se alguém tem ouvidos para ouvir, que ouça.
24. E disse-lhes: Atendei ao que ides ouvir. Com a medida com que medirdes vos medirão a vós, e ser-vos-á ainda acrescentada.
25. Porque ao que tem, ser-lhe-á dado; e, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.
26. E dizia: O Reino de Deus é assim como se um homem lançasse semente à terra,
27. e dormisse, e se levantasse de noite ou de dia, e a semente brotasse e crescesse, não sabendo ele como.
28. Porque a terra por si mesma frutifica; primeiro, a erva, depois, a espiga, e, por último, o grão cheio na espiga.
29. E, quando já o fruto se mostra, mete-lhe logo a foice, porque está chegada a ceifa.
30. E dizia: A que assemelharemos o Reino de Deus? Ou com que parábola o representaremos?
31. É como um grão de mostarda, que, quando se semeia na terra, é a menor de todas as sementes que há na terra;
32. mas, tendo sido semeado, cresce, e faz-se a maior de todas as hortaliças, e cria grandes ramos, de tal maneira que as aves do céu podem aninhar-se debaixo da sua sombra.
33. E com muitas parábolas tais lhes dirigia a palavra, segundo o que podiam compreender.
34. E sem parábolas nunca lhes falava, porém tudo declarava em particular aos seus discípulos.
35. E, naquele dia, sendo já tarde, disse-lhes: Passemos para a outra margem.
36. E eles, deixando a multidão, o levaram consigo, assim como estava, no barco; e havia também com ele outros barquinhos.
37. E levantou-se grande temporal de vento, e subiam as ondas por cima do barco, de maneira que já se enchia de água.
38. E ele estava na popa dormindo sobre uma almofada; e despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não te importa que pereçamos?
39. E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Cala-te, aquieta-te. E o vento se aquietou, e houve grande bonança.
40. E disse-lhes: Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé?
41. E sentiram um grande temor e diziam uns aos outros: Mas quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?
1. E chegaram à outra margem do mar, à província dos gadarenos.
2. E, saindo ele do barco, lhe saiu logo ao seu encontro, dos sepulcros, um homem com espírito imundo,
3. o qual tinha a sua morada nos sepulcros, e nem ainda com cadeias o podia alguém prender.
4. Porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões, em migalhas, e ninguém o podia amansar.
5. E andava sempre, de dia e de noite, clamando pelos montes e pelos sepulcros e ferindo-se com pedras.
6. E, quando viu Jesus ao longe, correu e adorou-o.
7. E, clamando com grande voz, disse: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes.
8. ( Porque lhe dizia: Sai deste homem, espírito imundo. )
9. E perguntou-lhe: Qual é o teu nome? E lhe respondeu, dizendo: Legião é o meu nome, porque somos muitos.
10. E rogava-lhe muito que os não enviasse para fora daquela província.
11. E andava ali pastando no monte uma grande manada de porcos.
12. E todos aqueles demônios lhe rogaram, dizendo: Manda-nos para aqueles porcos, para que entremos neles.
13. E Jesus logo lho permitiu. E, saindo aqueles espíritos imundos, entraram nos porcos; e a manada se precipitou por um despenhadeiro no mar ( eram quase dois mil ) e afogou-se no mar.
14. E os que apascentavam os porcos fugiram e o anunciaram na cidade e nos campos; e saíram muitos a ver o que era aquilo que tinha acontecido.
15. E foram ter com Jesus, e viram o endemoninhado, o que tivera a legião, assentado, vestido e em perfeito juízo, e temeram.
16. E os que aquilo tinham visto contaram-lhes o que acontecera ao endemoninhado e acerca dos porcos.
17. E começaram a rogar-lhe que saísse do seu território.
18. E, entrando ele no barco, rogava-lhe o que fora endemoninhado que o deixasse estar com ele.
19. Jesus, porém, não lho permitiu, mas disse-lhe: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão grandes coisas o Senhor te fez e como teve misericórdia de ti.
20. E ele foi e começou a anunciar em Decápolis quão grandes coisas Jesus lhe fizera; e todos se maravilhavam.
21. E, passando Jesus outra vez num barco para o outro lado, ajuntou-se a ele uma grande multidão; e ele estava junto do mar.
22. E eis que chegou um dos principais da sinagoga, por nome Jairo, e, vendo-o, prostrou-se aos seus pés
23. e rogava-lhe muito, dizendo: Minha filha está moribunda; rogo-te que venhas e lhe imponhas as mãos para que sare e viva.
24. E foi com ele, e seguia-o uma grande multidão, que o apertava.
25. E certa mulher, que havia doze anos tinha um fluxo de sangue,
26. e que havia padecido muito com muitos médicos, e despendido tudo quanto tinha, nada lhe aproveitando isso, antes indo a pior,
27. ouvindo falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou na sua vestimenta.
28. Porque dizia: Se tão-somente tocar nas suas vestes, sararei.
29. E logo se lhe secou a fonte do seu sangue, e sentiu no seu corpo estar já curada daquele mal.
30. E logo Jesus, conhecendo que a virtude de si mesmo saíra, voltou-se para a multidão e disse: Quem tocou nas minhas vestes?
31. E disseram-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te aperta, e dizes: Quem me tocou?
32. E ele olhava em redor, para ver a que isso fizera.
33. Então, a mulher, que sabia o que lhe tinha acontecido, temendo e tremendo, aproximou-se, e prostrou-se diante dele, e disse-lhe toda a verdade.
34. E ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai em paz e sê curada deste teu mal.
35. Estando ele ainda falando, chegaram alguns do principal da sinagoga, a quem disseram: A tua filha está morta; para que enfadas mais o Mestre?
36. E Jesus, tendo ouvido essas palavras, disse ao principal da sinagoga: Não temas, crê somente.
37. E não permitiu que alguém o seguisse, a não ser Pedro, e Tiago, e João, irmão de Tiago.
38. E, tendo chegado à casa do principal da sinagoga, viu o alvoroço e os que choravam muito e pranteavam.
39. E, entrando, disse-lhes: Por que vos alvoroçais e chorais? A menina não está morta, mas dorme.
40. E riam-se dele; porém ele, tendo-os feito sair, tomou consigo o pai e a mãe da menina e os que com ele estavam e entrou onde a menina estava deitada.
41. E, tomando a mão da menina, disse-lhe: Talitá cumi, que, traduzido, é: Menina, a ti te digo: levanta-te.
42. E logo a menina se levantou e andava, pois já tinha doze anos; e assombraram-se com grande espanto.
43. E mandou-lhes expressamente que ninguém o soubesse; e disse que lhe dessem de comer.
1. E, partindo dali, chegou à sua terra, e os seus discípulos o seguiram.
2. E, chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ouvindo-o, se admiravam, dizendo: De onde lhe vêm essas coisas? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? E como se fazem tais maravilhas por suas mãos?
3. Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, e de José, e de Judas, e de Simão? E não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele.
4. E Jesus lhes dizia: Não há profeta sem honra, senão na sua terra, entre os seus parentes e na sua casa.
5. E não podia fazer ali obras maravilhosas; somente curou alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos.
6. E estava admirado da incredulidade deles. E percorreu as aldeias vizinhas, ensinando.
7. Chamou a si os doze, e começou a enviá-los de dois a dois, e deu-lhes poder sobre os espíritos imundos,
8. e ordenou-lhes que nada tomassem para o caminho, senão um bordão; nem alforje, nem pão, nem dinheiro no cinto;
9. mas que calçassem sandálias e que não vestissem duas túnicas.
10. E dizia-lhes: Na casa em que entrardes, ficai nela até partirdes dali.
11. E, quando alguns vos não receberem, nem vos ouvirem, saindo dali, sacudi o pó que estiver debaixo dos vossos pés, em testemunho contra eles. Em verdade vos digo que haverá mais tolerância no Dia do Juízo para Sodoma e Gomorra do que para os daquela cidade.
12. E, saindo eles, pregavam ao povo que se arrependesse.
13. E expulsavam muitos demônios, e ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam.
14. E ouviu isso o rei Herodes ( porque o nome de Jesus se tornara notório ) e disse: João, o que batizava, ressuscitou dos mortos, e por isso estas maravilhas operam nele.
15. Outros diziam: É Elias. E diziam outros: É um profeta ou como um dos profetas.
16. Herodes, porém, ouvindo isso, disse: Este é João, que mandei degolar; ressuscitou dos mortos.
17. Porquanto o mesmo Herodes mandara prender a João e encerrá-lo manietado no cárcere, por causa de Herodias, mulher de Filipe, seu irmão, porquanto tinha casado com ela.
18. Pois João dizia a Herodes: Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão.
19. E Herodias o espiava e queria matá-lo, mas não podia;
20. porque Herodes temia a João, sabendo que era varão justo e santo; e guardava-o com segurança e fazia muitas coisas, atendendo-o, e de boa vontade o ouvia.
21. E, chegando uma ocasião favorável em que Herodes, no dia do seu aniversário, dava uma ceia aos grandes, e tribunos, e príncipes da Galiléia,
22. entrou a filha da mesma Herodias, e dançou, e agradou a Herodes e aos que estavam com ele à mesa. Disse, então, o rei à jovem: Pede-me o que quiseres, e eu to darei.
23. E jurou-lhe, dizendo: Tudo o que me pedires te darei, até metade do meu reino.
24. E, saindo ela, perguntou à sua mãe: Que pedirei? E ela disse: A cabeça de João Batista.
25. E, entrando apressadamente, pediu ao rei, dizendo: Quero que, imediatamente, me dês num prato a cabeça de João Batista.
26. E o rei entristeceu-se muito; todavia, por causa do juramento e dos que estavam com ele à mesa, não lha quis negar.
27. E, enviando logo o rei o executor, mandou que lhe trouxessem ali a cabeça de João. E ele foi e degolou-o na prisão.
28. E trouxe a cabeça num prato e deu-a à jovem, e esta a deu à sua mãe.
29. E os seus discípulos, tendo ouvido isso, foram, tomaram o seu corpo e o puseram num sepulcro.
30. E os apóstolos ajuntaram-se a Jesus e contaram-lhe tudo, tanto o que tinham feito como o que tinham ensinado.
31. E ele disse-lhes: Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco. Porque havia muitos que iam, e vinham, e não tinham tempo para comer.
32. E foram sós num barco para um lugar deserto.
33. E a multidão viu-os partir, e muitos os conheceram, e correram para lá, a pé, de todas as cidades, e ali chegaram primeiro do que eles, e aproximavam-se deles.
34. E Jesus, saindo, viu uma grande multidão, e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas.
35. E, como o dia fosse já muito adiantado, os seus discípulos se aproximaram dele e lhe disseram: O lugar é deserto, e o dia está já muito adiantado;
36. despede-os, para que vão aos campos e aldeias circunvizinhas e comprem pão para si, porque não têm o que comer.
37. Ele, porém, respondendo, lhes disse: Dai-lhes vós de comer. E eles disseram-lhe: Iremos nós e compraremos duzentos dinheiros de pão para lhes darmos de comer?
38. E ele disse-lhes: Quantos pães tendes? Ide ver. E, sabendo-o eles, disseram: Cinco pães e dois peixes.
39. E ordenou-lhes que fizessem assentar a todos, em grupos, sobre a erva verde.
40. E assentaram-se repartidos de cem em cem e de cinqüenta em cinqüenta.
41. E, tomando ele os cinco pães e os dois peixes, levantou os olhos ao céu, e abençoou, e partiu os pães, e deu-os aos seus discípulos para que os pusessem diante deles. E repartiu os dois peixes por todos.
42. E todos comeram e ficaram fartos,
43. e levantaram doze cestos cheios de pedaços de pão e de peixe.
44. E os que comeram os pães eram quase cinco mil homens.
45. E logo obrigou os seus discípulos a subir para o barco, e passar adiante, para o outro lado, a Betsaida, enquanto ele despedia a multidão.
46. E, tendo-os despedido, foi ao monte para orar.
47. E, sobrevindo a tarde, estava o barco no meio do mar, e ele, sozinho em terra.
48. E, vendo que se fatigavam a remar, porque o vento lhes era contrário, perto da quarta vigília da noite, aproximou-se deles, andando sobre o mar, e queria passar adiante deles,
49. mas, quando eles o viram andar sobre o mar, pensaram que era um fantasma e deram grandes gritos.
50. Porque todos o viram e perturbaram-se; mas logo falou com eles e disse-lhes: Tende bom ânimo, sou eu; não temais.
51. E subiu para o barco para estar com eles, e o vento se aquietou; e, entre si, ficaram muito assombrados e maravilhados,
52. pois não tinham compreendido o milagre dos pães; antes, o seu coração estava endurecido.
53. E, quando já estavam no outro lado, dirigiram-se à terra de Genesaré e ali atracaram.
54. E, saindo eles do barco, logo o reconheceram;
55. e, percorrendo toda a terra em redor, começaram a trazer em leitos, onde quer que sabiam que ele estava, os que se achavam enfermos.
56. E, onde quer que entrava, ou em cidade, ou em aldeias, ou no campo, apresentavam os enfermos nas praças e rogavam-lhe que os deixasse tocar ao menos na orla da sua veste, e todos os que lhe tocavam saravam.
1. E reuniram-se em volta dele os fariseus e alguns dos escribas que tinham vindo de Jerusalém.
2. E, vendo que alguns dos seus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar, os repreendiam.
3. Porque os fariseus e todos os judeus, conservando a tradição dos antigos, não comem sem lavar as mãos muitas vezes;
4. e, quando voltam do mercado, se não se lavarem, não comem. E muitas outras coisas há que receberam para observar, como lavar os copos, e os jarros, e os vasos de metal, e as camas.
5. Depois, perguntaram-lhe os fariseus e os escribas: Por que não andam os teus discípulos conforme a tradição dos antigos, mas comem com as mãos por lavar?
6. E ele, respondendo, disse-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.
7. Em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens.
8. Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens, como o lavar dos jarros e dos copos, e fazeis muitas outras coisas semelhantes a estas.
9. E dizia-lhes: Bem invalidais o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição.
10. Porque Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe e: Quem maldisser ou o pai ou a mãe deve ser punido com a morte.
11. Porém vós dizeis: Se um homem disser ao pai ou à mãe: Aquilo que poderias aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta ao Senhor,
12. nada mais lhe deixais fazer por seu pai ou por sua mãe,
13. invalidando, assim, a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós ordenastes. E muitas coisas fazeis semelhantes a estas.
14. E, chamando outra vez a multidão, disse-lhes: Ouvi-me, vós todos, e compreendei.
15. Nada há, fora do homem, que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai dele, isso é que contamina o homem.
16. Se alguém tem ouvidos para ouvir, que ouça.
17. Depois, quando deixou a multidão e entrou em casa, os seus discípulos o interrogavam acerca desta parábola.
18. E ele disse-lhes: Assim também vós estais sem entendimento? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar,
19. porque não entra no seu coração, mas no ventre e é lançado fora, ficando puras todas as comidas?
20. E dizia: O que sai do homem, isso é que contamina o homem.
21. Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios,
22. os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura.
23. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.
24. E, levantando-se dali, foi para os territórios de Tiro e de Sidom. E, entrando numa casa, queria que ninguém o soubesse, mas não pôde esconder-se,
25. porque uma mulher cuja filha tinha um espírito imundo, ouvindo falar dele, foi e lançou-se aos seus pés.
26. E a mulher era grega, siro-fenícia de nação, e rogava-lhe que expulsasse de sua filha o demônio.
27. Mas Jesus disse-lhe: Deixa primeiro saciar os filhos, porque não convém tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos.
28. Ela, porém, respondeu e disse-lhe: Sim, Senhor; mas também os cachorrinhos comem, debaixo da mesa, as migalhas dos filhos.
29. Então, ele disse-lhe: Por essa palavra, vai; o demônio já saiu de tua filha.
30. E, indo ela para sua casa, achou a filha deitada sobre a cama, pois o demônio já tinha saído.
31. E ele, tornando a sair dos territórios de Tiro e de Sidom, foi até ao mar da Galiléia, pelos confins de Decápolis.
32. E trouxeram-lhe um surdo, que falava dificilmente, e rogaram-lhe que impusesse as mãos sobre ele.
33. E, tirando-o à parte de entre a multidão, pôs-lhe os dedos nos ouvidos e, cuspindo, tocou-lhe na língua.
34. E, levantando os olhos ao céu, suspirou e disse: Efatá, isto é, abre-te.
35. E logo se lhe abriram os ouvidos, e a prisão da língua se desfez, e falava perfeitamente.
36. E ordenou-lhes que a ninguém o dissessem; mas, quanto mais lho proibia, tanto mais o divulgavam.
37. E, admirando-se sobremaneira, diziam: Tudo faz bem; faz ouvir os surdos e falar os mudos.
1. Naqueles dias, havendo mui grande multidão e não tendo o que comer, Jesus chamou a si os seus discípulos e disse-lhes:
2. Tenho compaixão da multidão, porque há já três dias que estão comigo e não têm o que comer.
3. E, se os deixar ir em jejum para casa, desfalecerão no caminho, porque alguns deles vieram de longe.
4. E os seus discípulos responderam-lhe: Donde poderá alguém satisfazê-los de pão aqui no deserto?
5. E perguntou-lhes: Quantos pães tendes? E disseram-lhe: Sete.
6. E ordenou à multidão que se assentasse no chão. E, tomando os sete pães e tendo dado graças, partiu-os e deu-os aos seus discípulos, para que os pusessem diante deles; e puseram-nos diante da multidão.
7. Tinham também uns poucos peixinhos; e, tendo dado graças, ordenou que também lhos pusessem diante.
8. E comeram e saciaram-se; e, dos pedaços que sobejaram, levantaram sete cestos.
9. E os que comeram eram quase quatro mil; e despediu-os.
10. E, entrando logo no barco com os seus discípulos, foi para as regiões de Dalmanuta.
11. E saíram os fariseus e começaram a disputar com ele, pedindo-lhe, para o tentarem, um sinal do céu.
12. E, suspirando profundamente em seu espírito, disse: Por que pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo que a esta geração não se dará sinal algum.
13. E, deixando-os, tornou a entrar no barco e foi para o outro lado.
14. E eles se esqueceram de levar pão e no barco não tinham consigo senão um pão.
15. E ordenou-lhes, dizendo: Olhai, guardai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes.
16. E arrazoavam entre si, dizendo: É porque não temos pão.
17. E Jesus, conhecendo isso, disse-lhes: Para que arrazoais, que não tendes pão? Não considerastes, nem compreendestes ainda? Tendes ainda o vosso coração endurecido?
18. Tendo olhos, não vedes? E, tendo ouvidos, não ouvis? E não vos lembrais
19. quando parti os cinco pães entre os cinco mil, quantos cestos cheios de pedaços levantastes? Disseram-lhe: Doze.
20. E, quando parti os sete entre os quatro mil, quantos cestos cheios de pedaços levantastes? E disseram-lhe: Sete.
21. E ele lhes disse: Como não entendeis ainda?
22. E chegou a Betsaida; e trouxeram-lhe um cego e rogaram-lhe que lhe tocasse.
23. E, tomando o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia; e, cuspindo-lhe nos olhos e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe se via alguma coisa.
24. E, levantando ele os olhos, disse: Vejo os homens, pois os vejo como árvores que andam.
25. Depois, tornou a pôr-lhe as mãos nos olhos, e ele, olhando firmemente, ficou restabelecido e já via ao longe e distintamente a todos.
26. E mandou-o para sua casa, dizendo: Não entres na aldeia.
27. E saiu Jesus e os seus discípulos para as aldeias de Cesaréia de Filipe; e, no caminho, perguntou aos seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens que eu sou?
28. E eles responderam: João Batista; e outros, Elias; mas outros, um dos profetas.
29. E ele lhes disse: Mas vós quem dizeis que eu sou? E, respondendo Pedro, lhe disse: Tu és o Cristo.
30. E admoestou-os, para que a ninguém dissessem aquilo dele.
31. E começou a ensinar-lhes que importava que o Filho do Homem padecesse muito, e que fosse rejeitado pelos anciãos, e pelos príncipes dos sacerdotes, e pelos escribas, e que fosse morto, mas que, depois de três dias, ressuscitaria.
32. E dizia abertamente estas palavras. E Pedro o tomou à parte e começou a repreendê-lo.
33. Mas ele, virando-se e olhando para os seus discípulos, repreendeu a Pedro, dizendo: Retira-te de diante de mim, Satanás; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas as que são dos homens.
34. E, chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me.
35. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.
36. Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?
37. Ou que daria o homem pelo resgate da sua alma?
38. Porquanto qualquer que, entre esta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, com os santos anjos.
1. Dizia-lhes também: Em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte sem que vejam chegado o Reino de Deus com poder.
2. E, seis dias depois, Jesus tomou consigo a Pedro, a Tiago e a João, e os levou sós, em particular, a um alto monte, e transfigurou-se diante deles.
3. E as suas vestes tornaram-se resplandecentes, em extremo brancas como a neve, tais como nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia branquear.
4. E apareceram-lhes Elias e Moisés e falavam com Jesus.
5. E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Mestre, bom é que nós estejamos aqui e façamos três cabanas, uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias.
6. Pois não sabia o que dizia, porque estavam assombrados.
7. E desceu uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e saiu da nuvem uma voz, que dizia: Este é o meu Filho amado; a ele ouvi.
8. E, tendo olhado ao redor, ninguém mais viram, senão Jesus com eles.
9. E, descendo eles do monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto, até que o Filho do Homem ressuscitasse dos mortos.
10. E eles retiveram o caso entre si, perguntando uns aos outros que seria aquilo, ressuscitar dos mortos.
11. E interrogaram-no, dizendo: Por que dizem os escribas que é necessário que Elias venha primeiro?
12. E, respondendo ele, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro e todas as coisas restaurará; e, como está escrito do Filho do Homem, que ele deva padecer muito e ser aviltado.
13. Digo-vos, porém, que Elias já veio, e fizeram-lhe tudo o que quiseram, como dele está escrito.
14. E, quando se aproximou dos discípulos, viu ao redor deles grande multidão e alguns escribas que disputavam com eles.
15. E logo toda a multidão, vendo-o, ficou espantada, e, correndo para ele, o saudaram.
16. E perguntou aos escribas: Que é que discutis com eles?
17. E um da multidão, respondendo, disse: Mestre, trouxe-te o meu filho, que tem um espírito mudo;
18. e este, onde quer que o apanha, despedaça-o, e ele espuma, e range os dentes, e vai-se secando; e eu disse aos teus discípulos que o expulsassem, e não puderam.
19. E ele, respondendo-lhes, disse: Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei ainda? Trazei-mo.
20. E trouxeram-lho; e, quando ele o viu, logo o espírito o agitou com violência; e, caindo o endemoninhado por terra, revolvia-se, espumando.
21. E perguntou ao pai dele: Quanto tempo há que lhe sucede isto? E ele disse-lhe: Desde a infância.
22. E muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o destruir; mas, se tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos.
23. E Jesus disse-lhe: Se tu podes crer; tudo é possível ao que crê.
24. E logo o pai do menino, clamando, com lágrimas, disse: Eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade.
25. E Jesus, vendo que a multidão concorria, repreendeu o espírito imundo, dizendo-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: sai dele e não entres mais nele.
26. E ele, clamando e agitando-o com violência, saiu; e ficou o menino como morto, de tal maneira que muitos diziam que estava morto.
27. Mas Jesus, tomando-o pela mão, o ergueu, e ele se levantou.
28. E, quando entrou em casa, os seus discípulos lhe perguntaram à parte: Por que o não pudemos nós expulsar?
29. E disse-lhes: Esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser com oração e jejum.
30. E, tendo partido dali, caminharam pela Galiléia, e não queria que alguém o soubesse,
31. porque ensinava os seus discípulos e lhes dizia: O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens e matá-lo-ão; e, morto, ele ressuscitará ao terceiro dia.
32. Mas eles não entendiam esta palavra e receavam interrogá-lo.
33. E chegou a Cafarnaum e, entrando em casa, perguntou-lhes: Que estáveis vós discutindo pelo caminho?
34. Mas eles calaram-se, porque, pelo caminho, tinham disputado entre si qual era o maior.
35. E ele, assentando-se, chamou os doze e disse-lhes: Se alguém quiser ser o primeiro, será o derradeiro de todos e o servo de todos.
36. E, lançando mão de uma criança, pô-la no meio deles e, tomando-a nos seus braços, disse-lhes:
37. Qualquer que receber uma destas crianças em meu nome a mim me recebe; e qualquer que a mim me receber recebe não a mim, mas ao que me enviou.
38. E João lhe respondeu, dizendo: Mestre, vimos um que, em teu nome, expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue.
39. Jesus, porém, disse: Não lho proibais, porque ninguém há que faça milagre em meu nome e possa logo falar mal de mim.
40. Porque quem não é contra nós é por nós.
41. Porquanto qualquer que vos der a beber um copo de água em meu nome, porque sois discípulos de Cristo, em verdade vos digo que não perderá o seu galardão.
42. E qualquer que escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma grande pedra de moinho e que fosse lançado no mar.
43. E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga,
44. onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga.
45. E, se o teu pé te escandalizar, corta-o; melhor é para ti entrares coxo na vida do que, tendo dois pés, seres lançado no inferno, no fogo que nunca se apaga,
46. onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga.
47. E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti entrares no Reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, ser lançado no fogo do inferno,
48. onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga.
49. Porque cada um será salgado com fogo, e cada sacrifício será salgado com sal.
50. Bom é o sal, mas, se o sal se tornar insulso, com que o adubareis? Tende sal em vós mesmos e paz, uns com os outros.
1. E, levantando-se dali, foi para o território da Judéia, além do Jordão, e a multidão se reuniu em torno dele; e tornou a ensiná-los, como tinha por costume.
2. E, aproximando-se dele os fariseus, perguntaram-lhe, tentando-o: É lícito ao homem repudiar sua mulher?
3. Mas ele, respondendo, disse-lhes: Que vos mandou Moisés?
4. E eles disseram: Moisés permitiu escrever carta de divórcio e repudiar.
5. E Jesus, respondendo, disse-lhes: Pela dureza do vosso coração vos deixou ele escrito esse mandamento;
6. porém, desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea.
7. Por isso, deixará o homem a seu pai e a sua mãe e unir-se-á a sua mulher.
8. E serão os dois uma só carne e, assim, já não serão dois, mas uma só carne.
9. Portanto, o que Deus ajuntou, não o separe o homem.
10. E em casa tornaram os discípulos a interrogá-lo acerca disso mesmo.
11. E ele lhes disse: Qualquer que deixar a sua mulher e casar com outra adultera contra ela.
12. E, se a mulher deixar a seu marido e casar com outro, adultera.
13. E traziam-lhe crianças para que lhes tocasse, mas os discípulos repreendiam aos que lhas traziam.
14. Jesus, porém, vendo isso, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir os pequeninos a mim e não os impeçais, porque dos tais é o Reino de Deus.
15. Em verdade vos digo que qualquer que não receber o Reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele.
16. E, tomando-as nos seus braços e impondo-lhes as mãos, as abençoou.
17. E, pondo-se a caminho, correu para ele um homem, o qual se ajoelhou diante dele e lhe perguntou: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
18. E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus.
19. Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falsos testemunhos; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe.
20. Ele, porém, respondendo, lhe disse: Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade.
21. E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, e vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me.
22. Mas ele, contrariado com essa palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.
23. Então, Jesus, olhando ao redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os que têm riquezas!
24. E os discípulos se admiraram destas suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no Reino de Deus!
25. É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus.
26. E eles se admiravam ainda mais, dizendo entre si: Quem poderá, pois, salvar-se?
27. Jesus, porém, olhando para eles, disse: Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis.
28. E Pedro começou a dizer-lhe: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos.
29. E Jesus, respondendo, disse: Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do evangelho,
30. que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições, e, no século futuro, a vida eterna.
31. Porém muitos primeiros serão derradeiros, e muitos derradeiros serão primeiros.
32. E iam no caminho, subindo para Jerusalém; e Jesus ia adiante deles. E eles maravilhavam-se e seguiam-no atemorizados. E, tornando a tomar consigo os doze, começou a dizer-lhes as coisas que lhe deviam sobrevir,
33. dizendo: Eis que nós subimos a Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas, e o condenarão à morte, e o entregarão aos gentios,
34. e o escarnecerão, e açoitarão, e cuspirão nele, e o matarão; mas, ao terceiro dia, ressuscitará.
35. E aproximaram-se dele Tiago e João, filhos de Zebedeu, dizendo: Mestre, queremos que nos faças o que pedirmos.
36. E ele lhes disse: Que quereis que vos faça?
37. E eles lhe disseram: Concede-nos que, na tua glória, nos assentemos, um à tua direita, e outro à tua esquerda.
38. Mas Jesus lhes disse: Não sabeis o que pedis; podeis vós beber o cálice que eu bebo e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado?
39. E eles lhe disseram: Podemos. Jesus, porém, disse-lhes: Em verdade vós bebereis o cálice que eu beber e sereis batizados com o batismo com que eu sou batizado,
40. mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence a mim concedê-lo, mas isso é para aqueles a quem está reservado.
41. E os dez, tendo ouvido isso, começaram a indignar-se contra Tiago e João.
42. Mas Jesus, chamando-os a si, disse-lhes: Sabeis que os que julgam ser príncipes das gentes delas se assenhoreiam, e os seus grandes usam de autoridade sobre elas;
43. mas entre vós não será assim; antes, qualquer que, entre vós, quiser ser grande será vosso serviçal.
44. E qualquer que, dentre vós, quiser ser o primeiro será servo de todos.
45. Porque o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos.
46. Depois, foram para Jericó. E, saindo ele de Jericó com seus discípulos e uma grande multidão, Bartimeu, o cego, filho de Timeu, estava assentado junto ao caminho, mendigando.
47. E, ouvindo que era Jesus de Nazaré, começou a clamar e a dizer: Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!
48. E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele clamava cada vez mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim!
49. E Jesus, parando, disse que o chamassem; e chamaram o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, que ele te chama.
50. E ele, lançando de si a sua capa, levantou-se e foi ter com Jesus.
51. E Jesus, falando, disse-lhe: Que queres que te faça? E o cego lhe disse: Mestre, que eu tenha vista.
52. E Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou. E logo viu, e seguiu a Jesus pelo caminho.
1. E, logo que se aproximaram de Jerusalém, de Betfagé e de Betânia, junto ao monte das Oliveiras, enviou dois dos seus discípulos
2. e disse-lhes: Ide à aldeia que está defronte de vós; e, logo que ali entrardes, encontrareis preso um jumentinho, sobre o qual ainda não montou homem algum; soltai-o e trazei-mo.
3. E, se alguém vos disser: Por que fazeis isso?, dizei-lhe que o Senhor precisa dele, e logo o deixará trazer para aqui.
4. E foram, e encontraram o jumentinho preso fora da porta, entre dois caminhos, e o soltaram.
5. E alguns dos que ali estavam lhes disseram: Que fazeis, soltando o jumentinho?
6. Eles, porém, disseram-lhes como Jesus lhes tinha mandado; e os deixaram ir.
7. E levaram o jumentinho a Jesus e lançaram sobre ele as suas vestes, e assentou-se sobre ele.
8. E muitos estendiam as suas vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos das árvores e os espalhavam pelo caminho.
9. E aqueles que iam adiante e os que seguiam clamavam, dizendo: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor!
10. Bendito o Reino do nosso pai Davi, que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!
11. E Jesus entrou em Jerusalém, no templo, e, tendo visto tudo ao redor, como fosse já tarde, saiu para Betânia, com os doze.
12. E, no dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome.
13. Vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos.
14. E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E os seus discípulos ouviram isso.
15. E vieram a Jerusalém; e Jesus, entrando no templo, começou a expulsar os que vendiam e compravam no templo; e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas.
16. E não consentia que ninguém levasse algum vaso pelo templo.
17. E os ensinava, dizendo: Não está escrito: A minha casa será chamada por todas as nações casa de oração? Mas vós a tendes feito covil de ladrões.
18. E os escribas e príncipes dos sacerdotes, tendo ouvido isso, buscavam ocasião para o matar; pois eles o temiam porque toda a multidão estava admirada acerca da sua doutrina.
19. E, sendo já tarde, saiu para fora da cidade.
20. E eles, passando pela manhã, viram que a figueira se tinha secado desde as raízes.
21. E Pedro, lembrando-se, disse-lhe: Mestre, eis que a figueira que tu amaldiçoaste se secou.
22. E Jesus, respondendo, disse-lhes: Tende fé em Deus,
23. porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito.
24. Por isso, vos digo que tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis.
25. E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas.
26. Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, vos não perdoará as vossas ofensas.
27. E tornaram a Jerusalém; e, andando ele pelo templo, os principais dos sacerdotes, e os escribas, e os anciãos se aproximaram dele
28. e lhe disseram: Com que autoridade fazes tu estas coisas? Ou quem te deu tal autoridade para fazer estas coisas?
29. Mas Jesus, respondendo, disse-lhes: Também eu vos perguntarei uma coisa, e respondei-me; e, então, vos direi com que autoridade faço estas coisas.
30. O batismo de João era do céu ou dos homens? Respondei-me.
31. E eles arrazoavam entre si, dizendo: Se dissermos: Do céu, ele nos dirá: Então, por que o não crestes?
32. Se, porém, dissermos: Dos homens, tememos o povo, porque todos sustentavam que João, verdadeiramente, era profeta.
33. E, respondendo, disseram a Jesus: Não sabemos. E Jesus lhes replicou: Também eu vos não direi com que autoridade faço estas coisas.
1. E começou a falar-lhes por parábolas: Um homem plantou uma vinha, e cercou-a de um valado, e fundou nela um lagar, e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavradores, e partiu para fora da terra.
2. E, chegado o tempo, mandou um servo aos lavradores para que recebesse, dos lavradores, do fruto da vinha.
3. Mas estes, apoderando-se dele, o feriram e o mandaram embora vazio.
4. E tornou a enviar-lhes outro servo; e eles, apedrejando-o, o feriram na cabeça e o mandaram embora, tendo-o afrontado.
5. E tornou a enviar-lhes outro, e a este mataram; e a outros muitos, dos quais a uns feriram e a outros mataram.
6. Tendo ele, pois, ainda um, seu filho amado, enviou-o também a estes por derradeiro, dizendo: Ao menos terão respeito ao meu filho.
7. Mas aqueles lavradores disseram entre si: Este é o herdeiro; vamos, matemo-lo, e a herança será nossa.
8. E, agarrando-o, o mataram e o lançaram fora da vinha.
9. Que fará, pois, o Senhor da vinha? Virá, e destruirá os lavradores, e dará a vinha a outros.
10. Ainda não lestes esta Escritura: A pedra que os edificadores rejeitaram, esta foi posta por cabeça da esquina;
11. isso foi feito pelo Senhor e é coisa maravilhosa aos nossos olhos?
12. E buscavam prendê-lo, mas temiam a multidão, porque entendiam que contra eles dizia esta parábola; e, deixando-o, foram-se.
13. E enviaram-lhe alguns dos fariseus e dos herodianos, para que o apanhassem em alguma palavra.
14. E, chegando eles, disseram-lhe: Mestre, sabemos que és homem de verdade e não te importas com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens, antes, com verdade, ensinas o caminho de Deus. É lícito pagar tributo a César ou não? Pagaremos ou não pagaremos?
15. Então, ele, conhecendo a sua hipocrisia, disse-lhes: Por que me tentais? Trazei-me uma moeda, para que a veja.
16. E eles lha trouxeram. E disse-lhes: De quem é esta imagem e inscrição? E eles lhe disseram: De César.
17. E Jesus, respondendo, disse-lhes: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus. E maravilharam-se dele.
18. Então, os saduceus, que dizem que não há ressurreição, aproximaram-se dele e perguntaram-lhe, dizendo:
19. Mestre, Moisés nos escreveu que, se morresse o irmão de alguém, e deixasse mulher, e não deixasse filhos, seu irmão tomasse a mulher dele e suscitasse descendência a seu irmão.
20. Ora, havia sete irmãos, e o primeiro tomou mulher e morreu sem deixar descendência;
21. e o segundo também a tomou, e morreu, e nem este deixou descendência; e o terceiro, da mesma maneira.
22. E tomaram-na os sete, sem, contudo, terem deixado descendência. Finalmente, depois de todos, morreu também a mulher.
23. Na ressurreição, pois, quando ressuscitarem, de qual destes será a mulher? Porque os sete a tiveram por mulher.
24. E Jesus, respondendo, disse-lhes: Porventura, não errais vós em razão de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus?
25. Porquanto, quando ressuscitarem dos mortos, nem casarão, nem se darão em casamento, mas serão como os anjos nos céus.
26. E, acerca dos mortos que houverem de ressuscitar, não tendes lido no livro de Moisés como Deus lhe falou na sarça, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó?
27. Ora, Deus não é de mortos, mas sim é Deus de vivos. Por isso, vós errais muito.
28. Aproximou-se dele um dos escribas que os tinha ouvido disputar e, sabendo que lhes tinha respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos?
29. E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.
30. Amarás, pois, ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.
31. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.
32. E o escriba lhe disse: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus e que não há outro além dele;
33. e que amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças e amar o próximo como a si mesmo é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios.
34. E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do Reino de Deus. E já ninguém ousava perguntar-lhe mais nada.
35. E, falando Jesus, dizia, ensinando no templo: Como dizem os escribas que o Cristo é Filho de Davi?
36. O próprio Davi disse pelo Espírito Santo: O Senhor disse ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés.
37. Pois, se Davi mesmo lhe chama Senhor, como é logo seu filho? E a grande multidão o ouvia de boa vontade.
38. E, ensinando-os, dizia-lhes: Guardai-vos dos escribas, que gostam de andar com vestes compridas, e das saudações nas praças,
39. e das primeiras cadeiras nas sinagogas, e dos primeiros assentos nas ceias;
40. que devoram as casas das viúvas e isso, com pretexto de largas orações. Estes receberão mais grave condenação.
41. E, estando Jesus assentado defronte da arca do tesouro, observava a maneira como a multidão lançava o dinheiro na arca do tesouro; e muitos ricos depositavam muito.
42. Vindo, porém, uma pobre viúva, depositou duas pequenas moedas, que valiam cinco réis.
43. E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva depositou mais do que todos os que depositaram na arca do tesouro;
44. porque todos ali depositaram do que lhes sobejava, mas esta, da sua pobreza, depositou tudo o que tinha, todo o seu sustento.
1. E, saindo ele do templo, disse-lhe um dos seus discípulos: Mestre, olha que pedras e que edifícios!
2. E, respondendo Jesus, disse-lhe: Vês estes grandes edifícios? Não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada.
3. E, assentando-se ele no monte das Oliveiras, defronte do templo, Pedro, e Tiago, e João, e André lhe perguntaram em particular:
4. Dize-nos quando serão essas coisas e que sinal haverá quando todas elas estiverem para se cumprir.
5. E Jesus, respondendo-lhes, começou a dizer: Olhai que ninguém vos engane,
6. porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos.
7. E, quando ouvirdes de guerras e de rumores de guerras, não vos perturbeis, porque assim deve acontecer; mas ainda não será o fim.
8. Porque se levantará nação contra nação, e reino, contra reino, e haverá terremotos em diversos lugares, e haverá fomes. Isso será o princípio de dores.
9. Mas olhai por vós mesmos, porque vos entregarão aos concílios e às sinagogas; sereis açoitados e sereis apresentados ante governadores e reis, por amor de mim, para lhes servir de testemunho.
10. Mas importa que o evangelho seja primeiramente pregado entre todas as nações:
11. Quando, pois, vos conduzirem para vos entregarem, não estejais solícitos de antemão pelo que haveis de dizer; mas o que vos for dado naquela hora, isso falai; porque não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo.
12. E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai, o filho; e levantar-se-ão os filhos contra os pais e os farão morrer.
13. E sereis aborrecidos por todos por amor do meu nome; mas quem perseverar até ao fim, esse será salvo.
14. Ora, quando vós virdes a abominação do assolamento, que foi predito, estar onde não deve estar ( quem lê, que entenda ), então, os que estiverem na Judéia, que fujam para os montes;
15. e o que estiver sobre o telhado, que não desça para casa, nem entre a tomar coisa alguma de sua casa;
16. e o que estiver no campo, que não volte atrás, para tomar a sua veste.
17. Mas ai das grávidas e das que criarem naqueles dias!
18. Orai, pois, para que a vossa fuga não suceda no inverno,
19. porque, naqueles dias, haverá uma aflição tal, qual nunca houve desde o princípio da criação, que Deus criou, até agora, nem jamais haverá.
20. E, se o Senhor não abreviasse aqueles dias, nenhuma carne se salvaria; mas, por causa dos escolhidos que escolheu, abreviou aqueles dias.
21. E, então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo, ou: Ei-lo ali, não acrediteis.
22. Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas e farão sinais e prodígios, para enganarem, se for possível, até os escolhidos.
23. Mas vós vede; eis que de antemão vos tenho dito tudo.
24. Ora, naqueles dias, depois daquela aflição, o sol se escurecerá, e a lua não dará a sua luz.
25. E as estrelas cairão do céu, e as forças que estão nos céus serão abaladas.
26. E, então, verão vir o Filho do Homem nas nuvens, com grande poder e glória.
27. E ele enviará os seus anjos e ajuntará os seus escolhidos, desde os quatro ventos, da extremidade da terra até a extremidade do céu.
28. Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já o seu ramo se torna tenro, e brotam folhas, bem sabeis que já está próximo o verão.
29. Assim também vós, quando virdes sucederem essas coisas, sabei que já está perto, às portas.
30. Na verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas essas coisas aconteçam.
31. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.
32. Mas, daquele Dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos que estão no céu, nem o Filho, senão o Pai.
33. Olhai, vigiai e orai, porque não sabeis quando chegará o tempo.
34. É como se um homem, partindo para fora da terra, deixasse a sua casa, e desse autoridade aos seus servos, e a cada um, a sua obra, e mandasse ao porteiro que vigiasse.
35. Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã,
36. para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo.
37. E as coisas que vos digo digo-as a todos: Vigiai.
1. E, dali a dois dias, era a Páscoa e a Festa dos Pães Asmos; e os principais dos sacerdotes e os escribas buscavam como o prenderiam com dolo e o matariam.
2. Mas eles diziam: Não na festa, para que, porventura, se não faça alvoroço entre o povo.
3. E, estando ele em Betânia assentado à mesa, em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher que trazia um vaso de alabastro, com ungüento de nardo puro, de muito preço, e, quebrando o vaso, lho derramou sobre a cabeça.
4. E alguns houve que em si mesmos se indignaram e disseram: Para que se fez este desperdício de ungüento?
5. Porque podia vender-se por mais de trezentos dinheiros e dá-lo aos pobres. E bramavam contra ela.
6. Jesus, porém, disse: Deixai-a, para que a molestais? Ela fez-me boa obra.
7. Porque sempre tendes os pobres convosco e podeis fazer-lhes bem, quando quiserdes; mas a mim nem sempre me tendes.
8. Esta fez o que podia; antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura.
9. Em verdade vos digo que, em todas as partes do mundo onde este evangelho for pregado, também o que ela fez será contado para sua memória.
10. E Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os principais dos sacerdotes para lho entregar.
11. E eles, ouvindo-o, alegraram-se e prometeram dar-lhe dinheiro; e buscava como o entregaria em ocasião oportuna.
12. E, no primeiro dia da Festa dos Pães Asmos, quando sacrificavam a Páscoa, disseram-lhe os discípulos: Aonde queres que vamos fazer os preparativos para comer a Páscoa?
13. E enviou dois dos seus discípulos e disse-lhes: Ide à cidade, e um homem que leva um cântaro de água vos encontrará; segui-o.
14. E, onde quer que entrar, dizei ao senhor da casa: O Mestre diz: Onde está o aposento em que hei de comer a Páscoa com os meus discípulos?
15. E ele vos mostrará um grande cenáculo mobilado e preparado; preparai-a ali.
16. E, saindo os seus discípulos, foram à cidade, e acharam como lhes tinha dito, e prepararam a Páscoa.
17. E, chegada a tarde, foi com os doze.
18. E, quando estavam assentados a comer, disse Jesus: Em verdade vos digo que um de vós, que comigo come, há de trair-me.
19. E eles começaram a entristecer-se e a dizer-lhe um após outro: Porventura, sou eu, Senhor? E outro: Porventura, sou eu, Senhor?
20. Mas ele, respondendo, disse-lhes: É um dos doze, que mete comigo a mão no prato.
21. Na verdade o Filho do Homem vai, como dele está escrito, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído! Bom seria para o tal homem não haver nascido.
22. E, comendo eles, tomou Jesus pão, e, abençoando-o, o partiu, e deu-lho, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo.
23. E, tomando o cálice e dando graças, deu-lho; e todos beberam dele.
24. E disse-lhes: Isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que por muitos é derramado.
25. Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da vide, até àquele Dia em que o beber novo, no Reino de Deus.
26. E, tendo cantado o hino, saíram para o monte das Oliveiras.
27. E disse-lhes Jesus: Todos vós esta noite vos escandalizareis em mim, porque escrito está: Ferirei o pastor, e as ovelhas se dispersarão.
28. Mas, depois que eu houver ressuscitado, irei adiante de vós para a Galiléia.
29. E disse-lhe Pedro: Ainda que todos se escandalizem, nunca, porém, eu.
30. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás.
31. Mas ele disse com mais veemência: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo nenhum te negarei. E da mesma maneira diziam todos também.
32. E foram a um lugar chamado Getsêmani, e disse aos seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu oro.
33. E tomou consigo a Pedro, e a Tiago, e a João e começou a ter pavor e a angustiar-se.
34. E disse-lhes: A minha alma está profundamente triste até a morte; ficai aqui e vigiai.
35. E, tendo ido um pouco mais adiante, prostrou-se em terra; e orou para que, se fosse possível, passasse dele aquela hora.
36. E disse: Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice; não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres.
37. E, chegando, achou-os dormindo e disse a Pedro: Simão, dormes? Não podes vigiar uma hora?
38. Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.
39. E foi outra vez e orou, dizendo as mesmas palavras.
40. E, voltando, achou-os outra vez dormindo, porque os seus olhos estavam carregados, e não sabiam o que responder-lhe.
41. E voltou terceira vez e disse-lhes: Dormi agora e descansai. Basta; é chegada a hora. Eis que o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores.
42. Levantai-vos, vamos; eis que está perto o que me trai.
43. E logo, falando ele ainda, veio Judas, que era um dos doze, da parte dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e dos anciãos, e, com ele, uma grande multidão com espadas e porretes.
44. Ora, o que o traía tinha-lhes dado um sinal, dizendo: Aquele que eu beijar, esse é; prendei-o e levai-o com segurança.
45. E, logo que chegou, aproximou-se dele e disse-lhe: Rabi, Rabi. E beijou-o.
46. E lançaram-lhe as mãos e o prenderam.
47. E um dos que ali estavam presentes, puxando da espada, feriu o servo do sumo sacerdote e cortou-lhe uma orelha.
48. E, respondendo Jesus, disse-lhes: Saístes com espadas e porretes a prender-me, como a um salteador?
49. Todos os dias estava convosco ensinando no templo, e não me prendestes; mas isto é para que as Escrituras se cumpram.
50. Então, deixando-o, todos fugiram.
51. E um jovem o seguia, envolto em um lençol sobre o corpo nu. E lançaram-lhe as mãos,
52. mas ele, largando o lençol, fugiu nu.
53. E levaram Jesus ao sumo sacerdote, e ajuntaram-se todos os principais dos sacerdotes, e os anciãos, e os escribas.
54. E Pedro o seguiu de longe até dentro do pátio do sumo sacerdote e estava assentado com os servidores, aquentando-se ao lume.
55. E os principais dos sacerdotes e todo o concílio buscavam algum testemunho contra Jesus, para o matar, e não o achavam.
56. Porque muitos testificavam falsamente contra ele, mas os testemunhos não eram coerentes.
57. E, levantando-se alguns, testificavam falsamente contra ele, dizendo:
58. Nós ouvimos-lhe dizer: Eu derribarei este templo, construído por mãos de homens, e em três dias edificarei outro, não feito por mãos de homens.
59. E nem assim o testemunho deles era coerente.
60. E, levantando-se o sumo sacerdote no Sinédrio, perguntou a Jesus, dizendo: Nada respondes? Que testificam estes contra ti?
61. Mas ele calou-se e nada respondeu. O sumo sacerdote lhe tornou a perguntar e disse-lhe: És tu o Cristo, Filho do Deus Bendito?
62. E Jesus disse-lhe: Eu o sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.
63. E o sumo sacerdote, rasgando as suas vestes, disse: Para que necessitamos de mais testemunhas?
64. Vós ouvistes a blasfêmia; que vos parece? E todos o consideraram culpado de morte.
65. E alguns começaram a cuspir nele, e a cobrir-lhe o rosto, e a dar-lhe punhadas, e a dizer-lhe: Profetiza. E os servidores davam-lhe bofetadas.
66. E, estando Pedro embaixo, no átrio, chegou uma das criadas do sumo sacerdote;
67. e, vendo a Pedro, que estava se aquentando, olhou para ele e disse: Tu também estavas com Jesus, o Nazareno.
68. Mas ele negou-o, dizendo: Não o conheço, nem sei o que dizes. E saiu fora ao alpendre, e o galo cantou.
69. E a criada, vendo-o outra vez, começou a dizer aos que ali estavam: Este é um dos tais.
70. Mas ele o negou outra vez. E, pouco depois, os que ali estavam disseram outra vez a Pedro: Verdadeiramente, tu és um deles, porque és também galileu.
71. E ele começou a imprecar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais.
72. E o galo cantou segunda vez. E Pedro lembrou-se da palavra que Jesus lhe tinha dito: Antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás tu. E, retirando-se dali, chorou.
1. E, logo ao amanhecer, os principais dos sacerdotes, e os anciãos, e os escribas, e todo o Sinédrio tiveram conselho; e, amarrando Jesus, o levaram e entregaram a Pilatos.
2. E Pilatos lhe perguntou: Tu és o Rei dos judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes.
3. E os principais dos sacerdotes o acusavam de muitas coisas, porém ele nada respondia.
4. E Pilatos o interrogou outra vez, dizendo: Nada respondes? Vê quantas coisas testificam contra ti.
5. Mas Jesus nada mais respondeu, de maneira que Pilatos se maravilhava.
6. Ora, no dia da festa costumava soltar-lhes um preso qualquer que eles pedissem.
7. E havia um chamado Barrabás, que, preso com outros amotinadores, tinha num motim cometido uma morte.
8. E a multidão, dando gritos, começou a pedir que fizesse como sempre lhes tinha feito.
9. E Pilatos lhes respondeu, dizendo: Quereis que vos solte o Rei dos judeus?
10. Porque ele bem sabia que, por inveja, os principais dos sacerdotes o tinham entregado.
11. Mas os principais dos sacerdotes incitaram a multidão para que fosse solto antes Barrabás.
12. E Pilatos, respondendo, lhes disse outra vez: Que quereis, pois, que faça daquele a quem chamais Rei dos judeus?
13. E eles tornaram a clamar: Crucifica-o.
14. Mas Pilatos lhes disse: Mas que mal fez? E eles cada vez clamavam mais: Crucifica-o.
15. Então, Pilatos, querendo satisfazer a multidão, soltou-lhes Barrabás, e, açoitado Jesus, o entregou para que fosse crucificado.
16. E os soldados o levaram para dentro do palácio, à sala da audiência, e convocaram toda a coorte.
17. E vestiram-no de púrpura e, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram na cabeça.
18. E começaram a saudá-lo, dizendo: Salve, Rei dos judeus!
19. E feriram-no na cabeça com uma cana, e cuspiram nele, e, postos de joelhos, o adoravam.
20. E, havendo-o escarnecido, despiram-lhe a púrpura, e o vestiram com as suas próprias vestes, e o levaram para fora, a fim de o crucificarem.
21. E constrangeram um certo Simão Cireneu, pai de Alexandre e de Rufo, que por ali passava, vindo do campo, a que levasse a cruz.
22. E levaram-no ao lugar do Gólgota, que se traduz por lugar da Caveira.
23. E deram-lhe a beber vinho com mirra, mas ele não o tomou.
24. E, havendo-o crucificado, repartiram as suas vestes, lançando sobre eles sortes, para saber o que cada um levaria.
25. E era a hora terceira, e o crucificaram.
26. E, por cima dele, estava escrita a sua acusação: O REI DOS JUDEUS.
27. E crucificaram com ele dois salteadores, um à sua direita, e outro à esquerda.
28. E cumpriu-se a Escritura que diz: E com os malfeitores foi contado.
29. E os que passavam blasfemavam dele, meneando a cabeça e dizendo: Ah! Tu que derribas o templo e, em três dias, o edificas!
30. Salva-te a ti mesmo e desce da cruz.
31. E da mesma maneira também os principais dos sacerdotes, com os escribas, diziam uns para os outros, zombando: Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo.
32. O Cristo, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para que o vejamos e acreditemos. Também os que com ele foram crucificados o injuriavam.
33. E, chegada a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra até à hora nona.
34. E, à hora nona, Jesus exclamou com grande voz, dizendo: Eloí, Eloí, lemá sabactâni? Isso, traduzido, é: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?
35. E alguns dos que ali estavam, ouvindo isso, diziam: Eis que chama por Elias.
36. E um deles correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo-a numa cana, deu-lho a beber, dizendo: Deixai, vejamos se virá Elias tirá-lo.
37. E Jesus, dando um grande brado, expirou.
38. E o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo.
39. E o centurião que estava defronte dele, vendo que assim clamando expirara, disse: Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus.
40. E também ali estavam algumas mulheres, olhando de longe, entre as quais também Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé,
41. as quais também o seguiam e o serviam, quando estava na Galiléia; e muitas outras que tinham subido com ele a Jerusalém.
42. E, chegada a tarde, porquanto era o Dia da Preparação, isto é, a véspera do sábado,
43. chegou José de Arimatéia, senador honrado, que também esperava o Reino de Deus, e ousadamente foi a Pilatos, e pediu o corpo de Jesus.
44. E Pilatos se admirou de que já estivesse morto. E, chamando o centurião, perguntou-lhe se já havia muito que tinha morrido.
45. E, tendo-se certificado pelo centurião, deu o corpo a José,
46. o qual comprara um lençol fino, e, tirando-o da cruz, o envolveu nele, e o depositou num sepulcro lavrado numa rocha, e revolveu uma pedra para a porta do sepulcro.
47. E Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde o punham.
1. E, passado o sábado, Maria Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago, compraram aromas para irem ungi-lo.
2. E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro, de manhã cedo, ao nascer do sol,
3. e diziam umas às outras: Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro?
4. E, olhando, viram que já a pedra estava revolvida; e era ela muito grande.
5. E, entrando no sepulcro, viram um jovem assentado à direita, vestido de uma roupa comprida e branca; e ficaram espantadas.
6. Porém ele disse-lhes: Não vos assusteis; buscais a Jesus, o Nazareno, que foi crucificado; já ressuscitou, não está aqui; eis aqui o lugar onde o puseram.
7. Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis, como ele vos disse.
8. E, saindo elas apressadamente, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de temor e assombro; e nada diziam a ninguém, porque temiam.
9. E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios.
10. E, partindo ela, anunciou-o àqueles que tinham estado com ele, os quais estavam tristes e chorando.
11. E, ouvindo eles que Jesus vivia e que tinha sido visto por ela, não o creram.
12. E, depois, manifestou-se em outra forma a dois deles que iam de caminho para o campo.
13. E, indo estes, anunciaram-no aos outros, mas nem ainda estes creram.
14. Finalmente apareceu aos onze, estando eles assentados juntamente, e lançou-lhes em rosto a sua incredulidade e dureza de coração, por não haverem crido nos que o tinham visto já ressuscitado.
15. E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.
16. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.
17. E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome, expulsarão demônios; falarão novas línguas;
18. pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e imporão as mãos sobre os enfermos e os curarão.
19. Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à direita de Deus.
20. E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram. Amém!